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Quinta-feira, 10 de Julho de 2008

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Temos saudades do ET. E a Pixar percebeu isso

 09.07.2008, John Anderson - Exlusivo PÚBLICO/"The Washington Post"

  

WALL-EWall-E é, sem dúvida, um dos projectos mais ambiciosos da Pixar dos últimos anos. É uma homenagem ao ET, mas numa versão robot do lixo. É um filme demasiado bom. Estreia cá em Agosto.

Quando se trabalha numa determinada indústria durante algum tempo, acabamos por desenvolver um sexto sentido no que toca a maus pressentimentos. Por exemplo, quando um crítico de cinema telefona para um estúdio para saber informações sobre um filme e o estúdio não responde às chamadas, presumimos que o dito filme é um autêntico lixo. Mas, por vezes, pode ser apenas uma questão de nervos. A história de Wall-E pode ser sobre uma montanha de lixo, mas o filme é um jardim de delícias bem-cheirosas.
ETUm dos filmes que se espera que se tornem grandes êxitos de bilheteira neste Verão, o projecto da Pixar tem claramente posto a co-distribuidora e produtora Disney com os nervos em franja. E nem é difícil perceber por quê. É demasiado bom. Demasiado inteligente. E, mais importante ainda, demasiado sombrio.
A acção passa-se num futuro distante em que a Terra está coberta de lixo, arrasada por monstruosas e ensurdecedoras tempestades de pó e onde a única forma de vida animal são as baratas (uma piada que literalmente corre por todo o filme). Wall-E é o nome do nosso herói - composto pelas iniciais de "Waste Allocation Load Lifter, Earth class", que, em português, pode ser traduzido como "Localizador, carregador e colocador de desperdícios, classe Terra". Este amoroso e mecanicamente alegre robot foi deixado na Terra para trabalhar sem parar nas sombras das lixeiras do planeta, recolhendo lixo, comprimindo lixo, levando a sua solitária existência no meio de artefactos acumulados e abandonados por uma sociedade humana que desapareceu (um cubo de Rubik, uma lâmpada, uma colecção de isqueiros Zippo que merecia estar num museu).
E, claro, termina cada dia de trabalho com lágrimas (ou óleo) nos olhos a rever uma velha cópia de Hello, Dolly!.
É embaraçoso - será isto tudo o que vai restar de nós? No entretanto, uma grande quantidade de seres humanos viaja há 700 anos pelo espaço, à espera que a Terra se regenere - e, graças à constante atenção de robots, os humanos ficaram reduzidos (se é que podemos utilizar esta palavra) a uma obesidade mórbida, à preguiça e a olhar para ecrãs de vídeo interactivos. Já não estamos na Floresta Encantada. É demasiado plausível.
A expectativa gerada pela chegada de Wall-E, realizado por Andrew Stanton, que esteve por trás de À Procura de Nemo, tem a ver sobretudo com a Pixar. O estúdio de animação responsável por Os Super-Heróis e Ratatouille é uma empresa que apresenta uma excelente performance em filme, e a única coisa que actualmente dá alguma credibilidade artística à Grande Disney. (Acha que não? Por acaso já assistiu a Hannah Montana?) Toda a gente sabe que o mercado está tão faminto por material passível de ser visto por todas as idades, que mesmo um modesto gasto em publicidade é suficiente para vender qualquer coisa às famílias norte-americanas que gostam de ir ao cinema, especialmente se essa coisa for de desenhos animados. Mas agora, quando a Pixar podia descansar à sombra dos seus êxitos, o estúdio faz o seu filme mais ousado. (Sim, é verdade que também está quase a estrear Toy Story 3, pelo que não está a arriscar tudo no filme do robot do lixo. Mas mesmo assim...)
O que o tio Walt e a sua Disney fizeram no passado pela vida animal selvagem (Bambi, Tambor, vocês conhecem a família), está agora a Pixar a fazer pelos objectos animados/inanimados. Através dos gestos antropomórficos e da ternura vocal, as personagens de Wall-E ficam mais humanas do que os seres humanos (era esse o objectivo, obviamente). Ficamos com a sensação de que este filme é o que a Pixar tinha como objectivo desde Luxo Jr., a curta-metragem produzida em 1986 acerca de um candeeiro (e que fornece o logótipo da companhia). Nem tudo aqui é original - a personagem principal é uma transposição directa, a nível físico e vocal, de ET (o conhecido engenheiro de som Ben Burtt, que criou a voz do ET, também faz a voz de Wall-E, sem utilizar nenhum som claramente humano). Eve ("Extraterrestrial Vegetation Evaluator", ou seja, "Avaliadora de vegetação extraterreste"), que chega para recolher amostras de plantas e roubar o coração de Wall-E (e com a voz de Elissa Knight), é uma uma heroína de anime japoneses repleta de bips e murmúrios. As comparações com Tempos Modernos de Charlie Chaplin - feito numa época em que o som já estava disponível mas em que se confiava quase exclusivamente nos efeitos sonoros cómicos, ou em vozes sem corpo que celebravam as virtudes de um presente incerto - são inevitáveis. As rotinas da linha de produção na nave espacial Axiom lembram Monstros & Companhia, também da Pixar.
Mas Wall-E é, na realidade, um filme de arte, o que pode ser uma má notícia para a Disney. Encantado com a sua própria tecnologia, a sua própria arte - e quase, quase, ao ponto de permitir que a tecnologia sublime a história. A chave para filmes da Pixar como Toy Story tem sido demonstrar uma execução inovadora mas relegar o software para segundo plano e deixar que a narrativa tome o comando. E, já que falamos nisso, Toy Story é também um filme sombrio - há uma segunda história, nunca assumida, acerca de um casamento falhado, e pessoas com problemas económicos - e, em Os Super-Heróis, o tema da filosofia de Ayn Rand era recorrente. Por isso, talvez fosse de esperar as paisagens citadinas pós-apocalípticas e a Humanidade dizimada que infectam Wall-E.
E quanto mais penso no assunto, mais concluo que é uma jóia de filme - na concepção, na execução e na mensagem. Mas, e como dizem no Congresso: "E os miúdos?"
O miúdo de 5 anos que está sentado ao pé de mim resume quase tudo ("Creio que o realizador Andrew Stanton se está a comprazer nas semióticas de Godard"). Agora a sério, os miúdos - que se têm rido bastante - ficaram muito quietos durante algumas cenas do filme, especialmente quando a Terra parece irrecuperável. O olhar de Wall-E quanto às nossas perspectivas de futuro também não me animaram muito, mas a ideia de que uma companhia situada no negócio do entretenimento mainstream tenha conseguido algo tão criativo, substancial e de aviso como este filme tem que aumentar as nossas esperanças para a Humanidade. Agora passem-me os chocolates. E ONDE ESTÁ O MEU ROBOT?

sinto-me:
publicado por ehgarde às 12:22
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