Publicada em 01/07/2008 às 13h05m - O Globo
Engenheiros italianos estão trabalhando para aperfeiçoar o protótipo de uma vela que, inspirada nos movimentos do kitesurf e do parapente, seria capaz de capturar o vento para gerar energia elétrica.
Os pesquisadores, da Universidade Politécnica de Turim e da empresa Kitegen, iniciaram os estudos há quatro anos e esperam que a vela proporcione uma nova fonte de energia renovável. Segundo eles, a idéia é concorrer com os modernos moinhos de vento.
Chamado de Kitgen, o protótipo está em fase de aperfeiçoamento e consiste em uma vela com área de 10 metros quadrados. Em setembro do ano passado, o protótipo voou sobre as colinas perto de Turim, no norte da Itália, a 800 metros de altitude e conseguiu produzir 40kW de energia.
"O sistema serve, essencialmente, para substituir as grandes centrais de energia a petróleo, gás e energia nuclear", explica um dos idealizadores, o engenheiro Mario Milanese. "Com ventos de cerca de 10 metros por segundo, ele já pode gerar de 20 a 25 kW - o suficiente para alimentar dezenas de casas", afirma Milanese
Investimento
Apesar do competitivo preço do sistema - 20 euros/MWh - que é duas ou três vezes menor que o de fontes de energia não renováveis, a política do governo italiano aponta para outra direção: o investimento em energia nuclear. Depois da crise de Chernobyl, um referendo popular realizado em 1987 tinha fechado as três centrais italianas em operação e a quarta em construção. No entanto, o novo governo italiano anunciou a decisão de voltar a investir em energia nuclear.
Simulações feitas durante o estudo indicam que 200 velas podem gerar 1000 MW de energia - o equivalente a uma central nuclear média - a um sexto do custo e com risco zero para o meio ambiente.
'Pipa no ar'
O Kitgen funciona com um princípio simples, semelhante ao de uma pipa no ar. No entanto, sua realização é complexa. A vela é ligada a uma plataforma mecânica móvel no chão, composta de turbina e gerador elétrico. Ela gira segundo a direção do vento e o movimento é transmitido para a estrutura em terra através de dois cabos presos em suas extremidades. Eles também são usados para controlar as velas e são acionados por motores. Esta força "extra" gasta cera de 15% da energia produzida. A situação se complica ainda mais quando um verdadeiro carrossel roda no ar e na terra.
Ao aumentar a área de cobertura e a altitude das velas, a capacidade de captar a energia eólica multiplica-se de forma exponencial. Dezenas de velas podem ser sustentadas por cabos ligados a um rotor conectado nas turbinas capazes de acionar os geradores elétricos.
Um programa de computador coordena os movimentos das velas, distantes 80 m uma da outra, através de sensores instalados nas pontas. Eles informam as condições do vento para uma central, de onde saem as manobras que garantem a trajetória, a estabilidade e a tração ideais.
O sofisticado sistema de navegação, equipado com GPS, permite manter uma rota em forma de oito no céu, com subidas e descidas. "As condições de uso são com ventos entre 5 e 35 metros por segundo. Acima ou abaixo destas velocidades os kites podem voltar para a terra", explica Milanese.
Alguns projetos semelhantes estão em andamento em todo o mundo, mas o italiano é o mais avançado. Na Alemanha, um sistema eólico já é usado para abater os custos da viagem de cargueiros pelos mares. A vela solta no ar, mas presa por longos cabos na traseira da embarcação ajuda a impulsionar os navios e a localizar a rota mais rápida e econômica.