2.º round - o científico:
:: 2008-07-16 - CiênciaHoje
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Varandas diz que fusão nuclear demora décadas |
A abertura do debate sobre o nuclear é "extremamente oportuna", mesmo tendo em conta apenas a fissão nuclear e não a fusão, um processo mais limpo e mais barato mas ainda a décadas de distância. A afirmação é de Carlos Varandas, presidente do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN), associado ao projecto do Reactor Termonuclear Internacional Experimental (ITER) actualmente em construção em Cadarache, perto de Marselha (França).
O investigador justificou hoje a sua posição à agência Lusa com as repercussões dos aumentos do preço do petróleo no custo da energia e porque "está agora a ser lançada no mercado uma nova geração de reactores de fissão nuclear, chamados de 'Geração 3', bastante mais seguros do que os anteriores e muito mais eficientes e limpos".
Na sua perspectiva, a electricidade de base "só pode ser produzida de duas maneiras: ou através das centrais hidroeléctricas, em que o governo investe muito, ou por centrais térmicas a gás natural, um processo poluente, embora menos do que o petróleo, mas cujos custos sobem com os deste, ou através de centrais nucleares". "Em Portugal, se vamos esgotar a nossa capacidade hidroeléctrica, se não queremos poluir e estar dependentes do preço do gás natural, então só temos a opção nuclear", considerou.
"Estou convencido de que em Portugal, tal como no resto da Europa, é vital relançar o debate sobre o nuclear e tomar as medidas que permitam ao governo, mais cedo ou mais tarde, tomar uma decisão", afirmou.
No entanto, o reacender do debate nada tem a ver com a fusão nuclear, e nomeadamente o projecto ITER, "que está a percorrer o seu percurso normal", tendo em vista a sua entrada em operação entre 2018 e 2020, salientou.
Daqui a quatro ou cinco anos
Depois de concluído, espera-se que, num período de quatro a cinco anos, o ITER demonstre a viabilidade científica e técnica da energia de fusão, apontando-se o início da produção comercial de energia para dentro de 40 a 60 anos, dependendo da vontade política.
A construção daquele reactor experimental arrancou este ano, estando neste momento já instalados edifícios provisórios, onde trabalham cerca de 200 pessoas, e estão a ser feitas escavações para os blocos finais.
Sobre a participação de Portugal no projecto, o investigador referiu duas vertentes, uma a nível internacional, com a negociação do primeiro contrato para toda a Europa na área do controlo e da aquisição de dados, a concluir no final do mês, e outra europeia, com a presença de um português a trabalhar já com funções de responsável na Agência Europeia de Fusão Nuclear.
"Por outro lado, estamos a aguardar que sejam lançados os concursos para os contratos de investigação a realizar em Portugal para o ITER, onde esperamos que Portugal possa assinar dois ou três até ao final do ano", acrescentou.
Fusão mais segura
Interrogado sobre as principais diferenças entre a fissão e a fusão nuclear, Carlos Varandas disse que "a fusão é ainda mais segura do que a fissão e praticamente não produz lixos radioactivos". Outra diferença é que "os combustíveis usados, a água e o lítio, são muito abundantes na Terra, e muitos baratos, em particular a água".
Para o investigador, as vantagens da fusão nuclear face à fissão nuclear são óbvias, nomeadamente porque "os elementos utilizados na fissão só existem em reservas para 100 a 200 anos, enquanto os da fusão nuclear, extraíveis da água do mar, "são praticamente inesgotáveis". A fusão nuclear é também, de acordo com Carlos Varandas, cerca de 100 vezes mais poderosa que a reacção de fissão.
Segundo os peritos, um quilograma de combustível de fusão permitirá produzir uma energia equivalente a 10 milhões de litros de petróleo. "Quando a central estiver construída será mais barata, mais limpa, mais segura e mais amiga do ambiente", afirmou, resumindo o processo como “a reprodução na Terra da produção energética do universo, onde toda a energia é gerada por reacções de fusão". "A seguir, dependendo das decisões políticas, vai ser necessário construir uma máquina que transforme em electricidade a energia térmica de fusão produzida no ITER", afirmou. "Se os políticos decidirem avançar desde já com a construção dessa máquina, chamada Demo, em paralelo com o ITER, poderemos ter electricidade dentro de 40 anos, caso seja decidido construí-la só depois de se ter a certeza de que a fusão é uma realidade, serão necessários mais 20 anos", explicou.
O ITER é um projecto de mais de 12 mil milhões de euros que agrega sete parceiros (União Europeia, EUA, China, Índia Japão, Coreia do Sul e Rússia), sendo a participação portuguesa coordenada pelo Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear, um Laboratório Associado com sede no Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa.
Boletim económico de Verão do Banco de Portugal
15.07.2008 - 19h40 - Por Lusa
Daniel Rocha |
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Vitor Constâncio diz que é preciso reduzir a dependência de energia |
O governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, defendeu hoje a necessidade de estudar todas as hipóteses que permitam reduzir a dependência energética, incluindo a opção pela energia nuclear.
Vítor Constâncio, que falava na Assembleia da República durante a apresentação do Boletim Económico de Verão do banco central, sublinhou a importância de Portugal adoptar "uma política energética diferente" que permita fazer frente à "alteração estrutural dos preços da energia".
"A alteração estrutural dos preços da energia está para ficar e tudo tem de ser discutido, incluindo o nuclear", afirmou o governador do banco central, defendendo que "tudo tem de ser feito para evitar a dependência energética". De acordo com o boletim económico de Verão do Banco de Portugal, o crescimento económico deste ano para 1,2 por cento, uma diminuição de oito décimas em relação à previsão anunciada em Janeiro e que era de dois por cento.
Quanto aos preços, o Banco de Portugal acompanha a tendência actual e revê em alta a inflação (indicador harmonizado com a Zona Euro, IHPC) para três por cento, contra os 2,4 por cento de Janeiro. O agravamento dos preços dos produtos alimentares, dos transportes e da energia é uma realidade que se acentuou no final do primeiro trimestre e início do segundo e que está traduzida nas novas previsões do banco central.
16.07.2008 - 09h24 - Por Lusa, PÚBLICO
Paulo Ricca |
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A Quercus alega que uma central em Portugal teria uma dimensão que não conseguia ser suportada pela rede eléctrica nacional |
A Quercus acusou hoje o governador do Banco de Portugal de "ingenuidade e desconhecimento" ao relançar o debate sobre o nuclear em Portugal, uma vez que os ambientalistas consideram esta opção errada também do ponto de vista financeiro. LPN alerta para risco de “debate inquinado”.
Em declarações no Parlamento, o governador Vítor Constâncio defendeu ontem que "a alteração estrutural dos preços da energia está para ficar e tudo tem de ser discutido, incluindo o nuclear".
Para os ambientalistas da Quercus, "se o problema do país é financeiro, então incluir o nuclear nas questões energéticas é um erro". "Um dos principais argumentos contra o nuclear é que é muito insustentável do ponto de vista de custos", declarou o dirigente ecologista Francisco Ferreira, apontando o exemplo das "enormes derrapagens" da central nuclear finlandesa.
A Quercus alega ainda que uma central em Portugal teria uma dimensão que não conseguia ser suportada pela rede eléctrica nacional, além dos tradicionais argumentos dos problemas do tratamento dos resíduos gerados pelo nuclear e da questão do risco. "O debate do nuclear foi feito nos últimos dois anos e extinguiu-se. Muito porque Portugal é o país da Europa onde a população acha que se deve apostar menos no nuclear", referiu Francisco Ferreira. "Só por ingenuidade sobre o sistema energético ou por desconhecimento das prioridades do ponto de vista de custo é que podem ter sido feitas as declarações do governador do Banco de Portugal", acrescentou.
LPN alerta para debate inquinado
Eugénio Sequeira, presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), diz que a questão da energia nuclear pode ser debatida, mas com informações claras e detalhadas e tendo em conta os custos e os impactos para o ambiente. “O debate é sempre útil, e não faz mal nenhum. Mas é preciso que o debate não esteja inquinado”, disse hoje à rádio TSF. “Temos de ver a valia de uma solução, qualquer que se faça, face aos custos totais, coisa que nunca se fez. Porque tem que se medir, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista social, quer do ponto de vista ambiental, do berço à cova”, comentou.
O dirigente defende que se deve incluir no custo de produção de energia eléctrica o “custo da execução da central, o custo total do desfazer dos resíduos finais e quanto é que isso vale em termos de risco ambiental, e o risco para a saúde pública, na sua totalidade”.